Aspectos gerais
É irônico o desconhecimento da sociedade sobre o que é Engenharia. Irônico porque, em todas as atividades e em todos os setores do consumo humano, usa-se da Engenharia. Seja Arquitetura, Engenharia Civil, Mecânica, Agronômica, Elétrica, Eletrônica, de Pesca, de Alimentos, Florestal, etc. Sempre se encontra a presença da Engenharia como parte da vida moderna.
Esse fato é conhecido por todas as pessoas que possuem algum nível cultural, no entanto, só é lembrado quando a atenção é voltada para ele, normalmente é totalmente esquecido. A Engenharia é transparente, incolor e insípida, é como uma vidraça de uma vitrine: quanto mais limpa menos se vê (vê-se o que está dentro da vitrine), porém, caso venha a sujar-se, aí sim ela aparece. Enquanto a Engenharia é muito difícil de ser vista, a Arquitetura só é vista nos seus aspectos artísticos e estéticos e dificilmente é notada nos aspectos técnicos. Dessa forma, os Arquitetos são muito pouco conhecidos quando a abordagem é técnica e os Engenheiros (em todas as suas modalidades) jamais são lembrados. Vê-se a construção, a plantação, o televisor, o automóvel, etc. mas não se vê a Engenharia lá agregada.
Além do mais existe uma confusão natural e normal entre a técnica e a execução do objeto que necessita daquela técnica, assim é que se confunde, por exemplo, Engenharia com construção e Engenheiros com mestres-de-obras. Dessa forma, fica difícil para o leigo diferençar o desenho de uma casa (feito por alguém que desenha) de um projeto de uma casa (executado por um Arquiteto). Esse fato prejudica muito o relacionamento cliente/profissional, torna muito difícil convencer um cliente leigo da necessidade da Engenharia.
Os empresários
Como a sociedade não percebe a necessidade e nem mesmo a existência da Engenharia, esta é sumariamente esquecida na aquisição dos bens de consumo. Mesmo que isso seja considerado importante pelo comprador, é esquecido na hora da compra. Vejamos o caso da construção civil: na compra de um apartamento, raramente é mencionada a equipe de projeto e execução da obra. Quando isso é lembrado, é relegado a um segundo plano, ficando atrás de coisas como a qualidade dos acabamentos ou a localização do imóvel e até alguns itens fúteis. Itens como uma instalação (elétrica, hidráulica, sanitária, etc.) bem projetada e construída com materiais tecnicamente corretos nunca são vistos como pontos que agregam valor ao preço final do empreendimento e tais coisas só darão problemas muito tempo depois, mas não tanto tempo para que possa ser descartada a utilização de um produto que se espera ser durável. O edifício Areia Branca, em Recife-PE, ruiu após 26 anos de uso, por vícios de construção.
Mas é querer muito de um consumidor que ele tenha o cuidado de solicitar, na hora da compra, os relatórios de rompimento dos corpos de prova do concreto usado na obra, pois eles nem sabem que isso existe.
Essa falta de conhecimento da sociedade leva a indústria a ignorar cada vez mais a técnica, colocando toda a sua energia naquilo que realmente vende o seu produto e, assim, a Engenharia é relegada também a um segundo plano. A certos empresários pouco interessa a Engenharia e a usam apenas para ter quem possa ser responsabilizado no caso de um insucesso, forçando os profissionais a obterem o máximo de ganho no tempo e custo da obra, algumas vezes em detrimento da própria segurança, da durabilidade, da qualidade do produto final.
As instituições de classe
A luta insana das instituições de classe, sindicatos, clubes e o CREA, esbarra no problema da desvalorização não só dos profissionais mas da profissão como um todo.
O que levaria um empresário a pagar bem um Engenheiro se a própria Engenharia correta não lhe trás mais lucro que a simples construção? É bem mais lógico pagar melhor a um mestre-de-obras que nada entende de Engenharia, “para atrapalhar a obra”, mas que entende muito de passar as informações aos operários, exatamente naquilo que melhor rende na hora da venda: preço e prazo. Caso haja muita técnica, muito esmero na construção, teremos esses dois fatores prejudicados.
Essa confusão, essa troca de valores, é muito comum na idéia da maioria dos empresários e isso é contagioso, transmitem-se aos profissionais, que deixam de lado a Engenharia e entram na roda-viva da construção de qualquer forma, desde que venda bem. Assim tais instituições não conseguem tornar mais valorizada a profissão porque os próprios Engenheiros não notam as diferenças acima colocadas.
Os profissionais
“- O pior dos cegos é aquele que não quer ouvir...”, já dizia meu pai e concluía: “...pois todo cego quer ver”. Algo parecido acontece com os profissionais de Engenharia: não são valorizados pela sociedade. Querem ser, mas não usam os seus recursos que podem lhes dar valor.
O profissional não reage quando alguém quer fazer algo de forma errada, segundo a Engenharia, e acostuma- se tanto a isso que não nota quando sua profissão é barbaramente atropelada. Entra naquela mesma porta onde entraram os empresários, seguindo os passos da sociedade. Acostumam-se a trabalhar sem o uso da técnica.
Mas os empresários não podem ser culpados de não tentar vender Engenharia, o objetivo deles é vender construção. Já os Engenheiros relegados a plano inferior, (para a sociedade, que mede muito o valor pelo dinheiro, “empresário” é mais importante que “engenheiro”), só têm Engenharia para vender. E como a Engenharia é pouco procurada, ela é vendida barato, às vezes, a preços humilhantes.
Engenharia é difícil, trabalhoso, complexo, exige muito estudo, prática, muita dedicação. E vender Engenharia é, além de tudo, muito mais difícil que fazer Engenharia. É necessário convencer da utilidade de algo a quem nem sabe o que é aquilo.
A universidade
As faculdades de Engenharia não formam Engenheiros. Raramente um formando de Engenharia tem o conhecimento exato de uma atitude profissional correta; as normas não são suficientemente ensinadas; as atitudes éticas jamais são lembradas nas faculdades; sequer são repassados os dados necessários para bem escrever um parecer ou um laudo; isso só para citar algumas falhas fatais.
Assim, a formação do Engenheiro limita- se aos conhecimentos, (às vezes bastantes superficiais), de aplicações da Física e da Matemática e o resto é meramente informativo, trazendo ao aluno um conceito errado de que Engenharia é só aquilo.
Pode-se notar que os defeitos acima atribuídos aos profissionais tiveram, em grande parte, uma origem de formação. Foram adquiridos na sua formação universitária.
O que fazer?
Começaríamos por informar a sociedade, explicar aos leigos o que é Engenharia e para que serve? Ou começaríamos por mudar a mentalidade dos profissionais? Seria melhor modificar o ensino, reciclar os professores?
Todos esses problemas estão intimamente interligados, não existe um maior que outro, ninguém é mais culpado que outro.
A mobilização pela valorização profissional tem que ser geral, não se pode atacar um setor e esquecer os outros. Essa mobilização tem de partir das instituições, inicialmente agindo sobre os profissionais e universidades para depois atuar nas classes envolvidas através de uma intensa campanha junto à sociedade.
Mas essa campanha é muito árdua e, antes de tudo, vai exigir uma harmonia perfeita entre os envolvidos. Para dar certo, vai exigir uma total união e cumplicidade de toda a classe.
É irônico o desconhecimento da sociedade sobre o que é Engenharia. Irônico porque, em todas as atividades e em todos os setores do consumo humano, usa-se da Engenharia. Seja Arquitetura, Engenharia Civil, Mecânica, Agronômica, Elétrica, Eletrônica, de Pesca, de Alimentos, Florestal, etc. Sempre se encontra a presença da Engenharia como parte da vida moderna.
Esse fato é conhecido por todas as pessoas que possuem algum nível cultural, no entanto, só é lembrado quando a atenção é voltada para ele, normalmente é totalmente esquecido. A Engenharia é transparente, incolor e insípida, é como uma vidraça de uma vitrine: quanto mais limpa menos se vê (vê-se o que está dentro da vitrine), porém, caso venha a sujar-se, aí sim ela aparece. Enquanto a Engenharia é muito difícil de ser vista, a Arquitetura só é vista nos seus aspectos artísticos e estéticos e dificilmente é notada nos aspectos técnicos. Dessa forma, os Arquitetos são muito pouco conhecidos quando a abordagem é técnica e os Engenheiros (em todas as suas modalidades) jamais são lembrados. Vê-se a construção, a plantação, o televisor, o automóvel, etc. mas não se vê a Engenharia lá agregada.
Além do mais existe uma confusão natural e normal entre a técnica e a execução do objeto que necessita daquela técnica, assim é que se confunde, por exemplo, Engenharia com construção e Engenheiros com mestres-de-obras. Dessa forma, fica difícil para o leigo diferençar o desenho de uma casa (feito por alguém que desenha) de um projeto de uma casa (executado por um Arquiteto). Esse fato prejudica muito o relacionamento cliente/profissional, torna muito difícil convencer um cliente leigo da necessidade da Engenharia.
Os empresários
Como a sociedade não percebe a necessidade e nem mesmo a existência da Engenharia, esta é sumariamente esquecida na aquisição dos bens de consumo. Mesmo que isso seja considerado importante pelo comprador, é esquecido na hora da compra. Vejamos o caso da construção civil: na compra de um apartamento, raramente é mencionada a equipe de projeto e execução da obra. Quando isso é lembrado, é relegado a um segundo plano, ficando atrás de coisas como a qualidade dos acabamentos ou a localização do imóvel e até alguns itens fúteis. Itens como uma instalação (elétrica, hidráulica, sanitária, etc.) bem projetada e construída com materiais tecnicamente corretos nunca são vistos como pontos que agregam valor ao preço final do empreendimento e tais coisas só darão problemas muito tempo depois, mas não tanto tempo para que possa ser descartada a utilização de um produto que se espera ser durável. O edifício Areia Branca, em Recife-PE, ruiu após 26 anos de uso, por vícios de construção.
Mas é querer muito de um consumidor que ele tenha o cuidado de solicitar, na hora da compra, os relatórios de rompimento dos corpos de prova do concreto usado na obra, pois eles nem sabem que isso existe.
Essa falta de conhecimento da sociedade leva a indústria a ignorar cada vez mais a técnica, colocando toda a sua energia naquilo que realmente vende o seu produto e, assim, a Engenharia é relegada também a um segundo plano. A certos empresários pouco interessa a Engenharia e a usam apenas para ter quem possa ser responsabilizado no caso de um insucesso, forçando os profissionais a obterem o máximo de ganho no tempo e custo da obra, algumas vezes em detrimento da própria segurança, da durabilidade, da qualidade do produto final.
As instituições de classe
A luta insana das instituições de classe, sindicatos, clubes e o CREA, esbarra no problema da desvalorização não só dos profissionais mas da profissão como um todo.
O que levaria um empresário a pagar bem um Engenheiro se a própria Engenharia correta não lhe trás mais lucro que a simples construção? É bem mais lógico pagar melhor a um mestre-de-obras que nada entende de Engenharia, “para atrapalhar a obra”, mas que entende muito de passar as informações aos operários, exatamente naquilo que melhor rende na hora da venda: preço e prazo. Caso haja muita técnica, muito esmero na construção, teremos esses dois fatores prejudicados.
Essa confusão, essa troca de valores, é muito comum na idéia da maioria dos empresários e isso é contagioso, transmitem-se aos profissionais, que deixam de lado a Engenharia e entram na roda-viva da construção de qualquer forma, desde que venda bem. Assim tais instituições não conseguem tornar mais valorizada a profissão porque os próprios Engenheiros não notam as diferenças acima colocadas.
Os profissionais
“- O pior dos cegos é aquele que não quer ouvir...”, já dizia meu pai e concluía: “...pois todo cego quer ver”. Algo parecido acontece com os profissionais de Engenharia: não são valorizados pela sociedade. Querem ser, mas não usam os seus recursos que podem lhes dar valor.
O profissional não reage quando alguém quer fazer algo de forma errada, segundo a Engenharia, e acostuma- se tanto a isso que não nota quando sua profissão é barbaramente atropelada. Entra naquela mesma porta onde entraram os empresários, seguindo os passos da sociedade. Acostumam-se a trabalhar sem o uso da técnica.
Mas os empresários não podem ser culpados de não tentar vender Engenharia, o objetivo deles é vender construção. Já os Engenheiros relegados a plano inferior, (para a sociedade, que mede muito o valor pelo dinheiro, “empresário” é mais importante que “engenheiro”), só têm Engenharia para vender. E como a Engenharia é pouco procurada, ela é vendida barato, às vezes, a preços humilhantes.
Engenharia é difícil, trabalhoso, complexo, exige muito estudo, prática, muita dedicação. E vender Engenharia é, além de tudo, muito mais difícil que fazer Engenharia. É necessário convencer da utilidade de algo a quem nem sabe o que é aquilo.
A universidade
As faculdades de Engenharia não formam Engenheiros. Raramente um formando de Engenharia tem o conhecimento exato de uma atitude profissional correta; as normas não são suficientemente ensinadas; as atitudes éticas jamais são lembradas nas faculdades; sequer são repassados os dados necessários para bem escrever um parecer ou um laudo; isso só para citar algumas falhas fatais.
Assim, a formação do Engenheiro limita- se aos conhecimentos, (às vezes bastantes superficiais), de aplicações da Física e da Matemática e o resto é meramente informativo, trazendo ao aluno um conceito errado de que Engenharia é só aquilo.
Pode-se notar que os defeitos acima atribuídos aos profissionais tiveram, em grande parte, uma origem de formação. Foram adquiridos na sua formação universitária.
O que fazer?
Começaríamos por informar a sociedade, explicar aos leigos o que é Engenharia e para que serve? Ou começaríamos por mudar a mentalidade dos profissionais? Seria melhor modificar o ensino, reciclar os professores?
Todos esses problemas estão intimamente interligados, não existe um maior que outro, ninguém é mais culpado que outro.
A mobilização pela valorização profissional tem que ser geral, não se pode atacar um setor e esquecer os outros. Essa mobilização tem de partir das instituições, inicialmente agindo sobre os profissionais e universidades para depois atuar nas classes envolvidas através de uma intensa campanha junto à sociedade.
Mas essa campanha é muito árdua e, antes de tudo, vai exigir uma harmonia perfeita entre os envolvidos. Para dar certo, vai exigir uma total união e cumplicidade de toda a classe.
* Eng. Antonio Sá Fernandes Palmeira
6 comentários:
O texto retrata muito bem a realidade. Eu mesmo sei o que é fazer Engenharia e não ser reconhecido (o pessoal acredita q Eng. da Computação é pra formatar computador).
Parabens ao autor do Texto.
A frase dita no início do texto é a mais pura verdade. Eng. é igual um vidro(...) e só quando suja que as pessoas notam que ela existe, e ainda no lado ruim. O avião que cai no mar, o prédio que desaba, o computador que trava, não lembram que o ser humano é sempre o responsável pelo problema. O computador não erra nunca. Só se for mal programado.
Parabéns pelo texto. Acredito também que somos responsáveis pelo desconhecimento da engenharia pela sociedade: brigamos entre nós mesmos dentro do Conselho Profissional e muitas vezes por disputa de beleza. O Conselho de Medicina é exemplo que deveríamos copiar para engrandecer a profissão do Engenheiro.
A verdade é que, neste país, com exceção da Medicina e o Direito, (que até carregam o status de "doutores"), todas as formações profissionais são desvalorizadas, e a grade maioria delas exige também tanto esforço e dedicação quanto uma engenharia. Já fiz administração e atualmente faço engenharia de produção, e pra mim ambas têm dificuldades, só que em contextos diferentes...
sao verdadeiras as palavras do candidato a um insulfilme.
Quanta besteira.
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