quinta-feira, 23 de julho de 2009

O engenheiro de estruturas se beneficia com o computador?

No post "computadores e cálculos" eu disse que me inspirei num texto para escrevê-lo, mas não lembrava onde li o texto. Bom, achei novamente esse texto, que segue na íntegra.
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O engenheiro de estruturas se beneficia com o computador?

SIM

O computador trouxe uma ajuda considerável para o cálculo de estruturas. Sem ele, muito progresso em novas estruturas não poderia ser alcançado. De início, o computador foi usado somente para "fazer contas" acelerando enormemente a velocidade dos cálculos. Tabelas que eram feitas penosamente, com muitas horas de trabalho, com o risco de serem cometidas falhas, hoje podem ser preparadas em questão de segundos.

O progresso foi tão grande que muitas tabelas, que eram de uso obrigatório por qualquer engenheiro, ficaram totalmente fora de uso. Tornou-se mais fácil calcular diretamente a grandeza tabelada, sem necessidade de interpolar, do que consultar a tabela e dela extrair o valor procurado. Num "piscar de olhos", o valor desejado para dados fracionários de entrada era obtido com a precisão que se desejasse, mais rápido ainda do que procurar a tabela e abri-la na página certa...

Mas o uso do computador não se restringiu a executar operações, mas também a resolver problemas que, por sua complexidade, nenhum engenheiro se atreveria a abordar, por perceber o enorme tempo necessário para chegar ao fim e ainda com o risco de cometer erros pelo caminho...

Problemas cuja solução só era possível mediante uso de modelos físicos que simulassem a estrutura verdadeira, cujos resultados deveriam ser traduzidos pelas leis de semelhança, para o protótipo, são resolvidos por meio do computador com mais rapidez do que a própria confecção do modelo.

Surgiu com o computador uma nova especialidade: a dos produtores de "softwares". Sem os programas integrados, ninguém consegue projetar uma estrutura, por mais simples que seja. Pouca gente sabe hoje calcular, mesmo que seja uma viga contínua, sem computador. O projetista que não possui computador é o mesmo que um agricultor "sem terra". Tendo computador, apenas, ele não faz nada. Precisa possuir um programa. Sem programa, o computador "não roda". O engenheiro precisa ter mais conhecimento do manejo do computador do que da estática das construções. O computador verifica tudo por ele. O engenheiro nem precisa saber de que forma são feitas as verificações de resistência, de deformações, de estabilidade, de conformidade com normas, de dimensionamento com espaço suficiente para alojamento das armaduras e de consideração dos carregamentos mais desfavoráveis. Ele só não pode ignorar qual "o botão certo para ser apertado"... Em sã consciência, ele está se beneficiando com isso ?

Pode-se afirmar sem cometer exageros que o uso do computador se tornou indispensável na vida moderna. O engenheiro que não se adaptou às inovações introduzidas por ele não consegue sobreviver com o que ganha na profissão. Está destinado a "fechar as portas" e desistir da atividade escolhida. Afirmamos, sem sombra de dúvidas, que o engenheiro de estruturas muito se beneficiou com a descoberta e uso dos computadores.

NÃO

Quando os primeiros computadores começaram a entrar em uso, creio que o nosso escritório tenha sido um dos primeiros a se beneficiar disso. As máquinas ainda eram tímidas, com poucos recursos, memória reduzida e... lentas. Ao fazer os primeiros cálculos, imediatamente pensávamos: vamos enriquecer ! Com os cálculos feitos nessa velocidade, entregaremos numa semana o que levaria meses para completar. Os clientes vão solicitar as cargas nas fundações dentro de uma semana e nós as entregaremos no dia seguinte. Eles ficarão tão entusiasmados que nos procurarão mais pelo prazo do que pela competência...

Isto foi uma grande ilusão. Como nós, muitos outros pensaram da mesma maneira e o mercado ficou entupido de dezenas de escritórios que faziam o mesmo. Os cálculos estruturais eram adjudicados antes mesmo que o projeto arquitetônico estivesse completo. O cálculo ficava pronto e o arquiteto ia raciocinar diante de uma planta com dimensões possíveis e não adivinhadas. Já que resultaram dimensões pequenas, os vãos poderiam ser aumentados... Alguns pilares poderiam ser eliminados, a circulação nas garagens poderia ser muito melhorada... A estética das fachadas poderia sofrer muitas inovações. Aquilo que era complicado e "time consuming" poderia ser feito e repetido, quantas vezes fosse necessário até agradar ao artista, que outrora concebia suas obras e ficava limitado pelas restrições impostas pelo cálculo. Agora era diferente. Os engenheiros repetiriam os cálculos sem reclamar muito e... sem cobrar acréscimos de serviço. Não era ele quem perdia tempo, era o computador, e isto era grátis!

Essa noção errada prevaleceu. Os engenheiros jovens, com o objetivo de conquistar clientes, aceitavam tudo e ainda davam descontos. Como os clientes pouco entendiam de projeto estrutural, não percebiam a diferença entre projetos feitos com profissionais treinados e principiantes. Começaram a aparecer projetos extremamente esbeltos, com baixo consumo de materiais - que maravilha para os investidores ! - mas que causavam na obra grandes deformações. A culpa era do concreto, os cimentos deveriam melhorar seu desempenho...

A proliferação de projetos com falhas só beneficiou aqueles que trabalham em consultoria. Choveram pedidos de revisão de projetos. Os construtores preferiam pagar para alguém confiável apenas afirmar "Pode executar a obra sem qualquer tipo de preocupação !" do que pagar melhor o projetista, para que ele pudesse dispender mais tempo escolhendo criteriosamente a estrutura. As modificações de projeto, que já eram numerosas e pagas, passaram a ser rotina e...gratuitas ! As firmas, além da responsabilidade civil pelo projeto apresentado, eram obrigadas a dividir o lucro cada vez menor com o governo, que cobrava impostos cada vez maiores. As despesas não diminuíram com o uso do computador, apenas se deslocaram para outros setores. Muitos desenhistas perderam o emprego e foram trabalhar em outra área. Alguns aprenderam a desenhar no computador e aquilo que o engenheiro deveria fazer acabou sendo delegado para desenhistas ainda mal treinados. Acabaram as mesas de desenho, que foram substituídas por "plotters" cada vez mais velozes. Tudo acelerou: montagem da estrutura, pré-cálculo, processamentos cada vez mais sofisticados, emissão de desenhos, muitos sendo provisórios para atender à demanda da obra. Depois do cálculo terminado, as modificações. E o que já estava construído com desenhos provisórios? Estudo de reforços custosos para o projetista, desmontando a programação do restante a ser fornecido e desarticulação dos profissionais envolvidos. São despesas que não aparecem e não são ressarcidas...

E as normas ? De acordo com novos ensaios, outras estruturas estão sendo projetadas, pórticos espaciais estão sendo calculados sem grandes dificuldades, pontes estaiadas puderam se tornar rotina de cálculo, verificações de numerosos casos de combinação de ações, ventos em todas as direções possíveis foram computados, verificações de deformações em estruturas esbeltas e desformas prematuras com re-escoramento exigindo novas verificações. Vários desses cálculos novos, sempre muito onerosos, estão sendo exigidos nas revisões recentes de normas. Isso constitui um grande ônus para os projetistas e não admite cobranças extras. Quem não obedece às normas vai sendo alijado pelos clientes, mesmo que sejam clientes antigos, que são advertidos pela concorrência. Quem não obedece às normas não produz estruturas confiáveis...

Não é exagero afirmar conscientemente: "Somente os investidores se beneficiaram com o uso do computador." Alguns estão recebendo muito mais por menor preço, pois é o mercado que define as remunerações. Estes sim, estão se beneficiando, e muito, com o computador. Outros estão recebendo projetos mal feitos, sem verificação, com grande rapidez e péssima qualidade pensando que estão se beneficiando, pois são incapazes de distinguir um projeto do outro.

*Dr. Eng. Augusto Carlos Vasconcelos
Fonte: TQS Informática

5 comentários:

L!pp& disse...

é... a posição do cara é clara neh rsrsrs

dah uma régua de cálculo pra ele entaum q eu prefiro minha HP!

Anônimo disse...

Se você der uma régua de cálculo para esse "cara", ele te calcula um prédio inteiro sozinho, enquanto você, com sua "HP", não vai saber nem calcular uma viga bi-apoiada. Com certeza você não tem a mínima idéia de quem é o Dr. Vasconcellos, nem muito menos o que seja Engenharia.

goHan disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Parabéns pelas palavras! O que acontece é que existem muitas universidades que formam péssimos profissionais. A tendência é piorar... Está infestado de "escritório" de engenharia por aí, engenheiros que mal sabem analisar um diagrama de estado... Estou no último ano da faculdade e já trabalho com cálculo estrutura, especificamente com estruturas metálicas. Após formado farei minha pós-graduação, mestrado e etc...

Lucas Ferreira disse...

Obrigado pelo texto; vi a referência dele no livro do Alio Kimura achei o tema interessante; o Prof. Dr. Avelino Alves Filho, autor do livro "Elementos finitos, A Base da Tecnologia CAE" faz críticas semelhantes ao uso dos computadores na engenharia estrutural.